prof pedro em Estremoz

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Arquivo de Abril, 2012

Do Gótico ao Renascimento (sécs. XII-XIV)

O século XII é por excelência um século do florescimento da vida urbana – as cidades aumentaram, então, o seu perímetro e libertaram-se da cinta amuralhada primitiva absorvendo a população, que se fixara para lá das muralhas. Ao mesmo tempo, a cidade tornava-se não só o foco da vida comercial mas igualmente da vida intelectual, que deixa de pertencer em exclusivo aos mosteiros isolados para se instalar também nas escolas urbanas. Também dependentes do clero, as escolas (catredalícias conventuais, paroquiais ou capitulares) estruturam-se em outros moldes. Redescobriu-se a cultura da Antiguidade Clássica através dos autores árabes – Platão, Aristóteles e outros sábios chegam através de Averróis ou Avicena – e estabeleceu-se o programa de estudos no ensino das “Letras” (trivium) e das “Ciências” (quadrivium). No século seguinte, surgem as primeiras universidades corporativas, como Paris, Oxford ou Bolonha. O tipo de ensino aqui leccionado trará a lume as contradições entre os dogmas impostos pelo cristianismo e a filosofia pagã. Como resultado do esforço da ortodoxia, a doutrina escolástica proíbe e/ou reinterpreta certos autores, difundindo um saber filtrado sob os princípios da Igreja Romana.
Enquanto se elaboravam as grandes sumas teológicas, a Igreja veiculava os seus ideais através dos seus edifícios, agora expressos por um estilo mais leve, mais articulado e lógico, o gótico. Este estilo vai reflectir-se igualmente na pintura e na escultura, que ganham maior liberdade em relação ao românico, mais hierático, “pesado” e “defensivo”. Conhecida pelas suas catedrais, a arquitectura gótica surge graças ao avanço da teorização arquitectónica, que descobre novos meios técnicos: a invenção da ogiva e a sua utilização na criação de abóbadas mais leves em que o peso é distribuído uniformemente. As paredes deixam de ser um elemento de suporte das cargas, permitindo a abertura de largas janelas decoradas por vitrais coloridos que filtram a luz para o interior. Com paredes mais ligeiras, a estrutura eleva-se desmesuradamente, desafiando as leis da gravidade nas agulhas que rematam as torres. Este estilo arquitectónico, que começou, para muitos autores, pela mão do abade Suger na igreja da abadia de Saint-Denis, em Paris, espalhou-se rapidamente pela Europa assumindo diversas nuances regionais (em Inglaterra com as catedrais de cabeceira plana, como Durham; em Espanha, com a influência da arte mudéjar, que aponta a utilização de diferentes materiais) e temporais. Das primeiras igrejas, como Notre Dame de Paris, evolui-se para um estilo mais rebuscado, o gótico flamejante da Baixa Idade Média, que em Portugal assumirá uma variação muito própria através do designado estilo “manuelino”. Digno de nota é também o estilo preconizado pelas Ordens Mendicantes, com as suas “igrejas salão” (o chamado “gótico mendicante”, visivelmente em Portugal na Batalha e em S. Francisco do Porto).
Dentro deste panorama destacam-se as cidades do Norte e Centro de Itália, onde a civilização do Trecento prepara o Renascimento italiano. Esta evolução à parte do resto da Europa teve origem essencialmente no poder comercial e político que as cidades italianas possuíam, instituindo-se verdadeiros Estados. Aqui, o Renascimento é preparado na literatura, com vultos como Petrarca, Dante ou Bocaccio. As universidades insurgem-se contra o Latim da igreja (escolástico) e procuram a pureza da língua “italiana”, para além de reabilitar os autores gregos e romanos. Em termos arquitectónicos, o gótico francês faz eco na catedral de Milão, mas a grande maioria das igrejas adoptam um estilo próprio, socorrendo-se da ogiva mas adoptando um traço mais depurado (fachadas simples ritmadas pelo contraste polícromo das pedras. Aproveitando os materiais italianos, e tectos à antiga). O gótico terá eco sobretudo na arquitectura civil, através dos seus palácios, e nas artes plásticas. A pintura e a escultura do Trecento italiano adoptam muitas das características da arte gótica fundida com a estética bizantina. O génio de homens como Giotto, Simone e Cimabue na pintura, Giovanno e Andrea Pisano ou Adolfo di Cambio, na escultura, prepara de forma decisiva o Renascimento quatrocentista, que revolucionará o panorama artístico europeu com uma nova concepção estética.

Dia da LIBERDADE

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Arquitectura Gótica

Arquitectura
Durante a época gótica, a arquitectura, simbolizada pela grande Catedral, foi a forma artística que conheceu um maior desenvolvimento técnico e formal. Grande parte das criações escultóricas deste período surgem associadas à arquitectura (normalmente de carácter religioso), sendo aplicadas tanto no exterior como no interior dos edifícios. Procurava em simultâneo exaltar e descrer os textos sagrados, todas as esculturas da Catedral cumpriam um vasto programa narrativo que as transformou num verdadeiro “Livro de Pedra”. Para além destas peças escultóricas que integravam as fachadas (caso das representações de anjos e de santos das portas, das figuras fantásticas que formavam as gárgulas, das séries de retratos de reis), ou os interiores das naves, como os capitéis esculpidos, os frisos decorados e os retábulos em pedra, foram igualmente desenvolvidas estátuas de escala mais modesta que se tornaram autónomas relativamente aos organismos arquitectónicos.
Estas esculturas, de pequena dimensão e de temática religiosa, destinavam-se ora às igrejas rurais, ora ao culto privado. A partir dos inícios do século XIII, momento que marcou a ascensão de uma estética mais naturalista e menos estilizada, as estátuas representando a Madonna com o menino constituiram um dos temas preferidos. Estas estátuas, tal como grande parte dos edifícios, eram pintadas.
O mosteiro da Batalha, em Portugal, apresenta um dos mais notáveis conjuntos de estatuária gótica integrada em arquitectura, assim como o grande túmulo de D. João I. Dentro deste género são de referir ainda os túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Castro, colocados no transepto do mosteiro de Alcobaça, que constituem o mais perfeito conjunto escultórico português da época gótica.
Tecnologicamente, o gótico define-se pela utilização concertada do arco ogival e da abóbada de nervuras cruzadas, que permitiram o arrojo de coberturas mais altas (estreitamento dos pilares) e mais leves. O uso de nervuras diagonais introduz a complexificação dos sistemas de suporte – os pilares adensam-se e concentram elementos distintos (colunelos, colunas, pilastras), recebendo a descarga imposta pelas nervuras. As paredes libertam-se das anteriores abóbadas, adelgaçam-se numa quase desmaterialização, à qual não é estranho o emprego de contrafortes exteriores separados dos panos parietais, aos quais se unem por meio de arcobotantes (arcos de descarga). Verifica-se na arquitectura gótica uma acentuada renovação espacial que nos distancia do modelo basilical, sobretudo pela verticalidade.
Os elementos de suporte complexificam-se e alongam-se e as abóbadas de cruzaria conferem unidade ao espaço. As paredes desmultiplicam-se em andares (galerias, trifório), onde a presença da luz natural contribui para a intensificação da mística religiosa. Tudo é linear, proporcional e uno, numa estreita correspondência de partes. O coro desenvolve-se de maneira por vezes excepcional, dando origem à formação de deambulatórios com as respectivas capelas radiantes, favorecendo a aproximação tangencial do crente com o seu Deus. As paredes são ritmadas por amplos janelões que transfiguram a luz através de elaborados vitrais, de vincado carácter narrativo.
A nível da planta consagra-se a adopção do plano em cruz latina, com três naves de altura e largura desiguais e transepto geralmente com três naves, embora pouco saliente.
As fachadas concentram dois elementos-chave do Gótico – o portal e a rosácea (alude ao sol como símbolo de Cristo e à rosa como símbolo de Maria) -, rivalizando entre si nas dimensões e enriquecimento escultórico.